As medidas restritivas que vêm sendo impostas desde o advento da covid-19 não deixam ninguém indiferente. O Covid-19 mostrou para a humanidade que uma outra civilização é perfeitamente possível, pois quem teria acreditado que, com a proeza de nossa ciência, um simples vírus teria impedido o movimento humano no planeta dos vivos em pleno século XXI?
A escola, lugar de excelência para a preparação da humanidade futura, não foi poupada. O seu fazer pedagógico foi transposto para o mundo digital. Tudo virou “on-line”. Após cerca de um ano estudando em casa, a pergunta que vem à mente é: como será o retorno à escola após a pandemia do COVID-19? Em outras palavras, quais são os pontos que a escola deverá concentrar sua atenção após a pandemia? Este trabalho apresentará nossa tentativa de responder a essa pergunta.
A educação pós-pandemia tem sido uma preocupação constante dos educadores, famílias e estudantes. O contexto pandêmico que a toda humanidade foi imposto pegou a todos de surpresa, e as instituições de ensino tiveram que lidar com um cenário completamente novo. A adaptação à nova realidade não foi fácil, pois, em pouco tempo, foi necessário colocar em prática diversas ações para dar sequência ao aprendizado dos alunos e continuar sendo escola, garantido que nossa missão de ensinar e de garantir a aprendizagem pudesse continuar a acontecer.
O Pós-pandemia e os processos que a escola precisará construir ainda são tendências para a Educação. É o futuro que estar por vir. Não podemos desconsiderar que o Pós-pandemia seja para as escolas uma oportunidade. Isso mesmo, uma oportunidade de rever, realinhar e repensar seus projetos de educação. A escola, depois da pandemia, terá que se concentrar em vários pontos ao mesmo tempo e, de forma habilidosa e eficiente, reorganizar os espaços físicos internos; realizar um diagnóstico de seu corpo docente e administrativo e um diagnóstico geral, sobretudo no que tange aos aspectos pedagógico e psicopedagógico; deve ter a capacidade de fornecer ao aluno o essencial para o seu crescimento intelectual, socioemocional e que seja de forma constante e eficaz; aprimorar os processos digitais para que estejam a serviço da aprendizagem; ampliar o espaço e os momentos de convivência dos alunos com seus pares e fortalecer a parceria com a família, núcleo que foi decisivo para que o processo de aprendizagem, nesse período de aulas não presenciais, pudesse acontecer.
Destacamos sete pontos de reflexão que julgamos ser fundamentais para as escolas no pós-pandemia.
O espaço físico deve inspirar confiança e segurança. Todos os protocolos de enfrentamento ao COVID-19 devem ser interpretados com alternativas capazes de nos ajudar a proteger alunos, funcionários, professores e famílias. Lembrando que as medidas de higiene não são feitas apenas nos momentos pandêmicos, mas são para a vida toda. A segurança sanitária é, também, uma construção cultural, mediada por novos hábitos de higiene pessoal e responsabilidade interpessoal que devem ser de diálogo permanente em toda comunidade educativa. Planejar ações de sensibilização dos estudantes e seus familiares e de formação da comunidade educativa sobre a correta implementação das medidas de higiene e segurança é um dever das escolas, pois apenas pessoas conscientes de suas necessidades são capazes de cumprir as ações que visam à segurança pessoal e, consequentemente, a segurança coletiva.
Em segundo lugar, refletimos sobre a importância de diagnosticar. É decisivo ter clareza do cenário real em que estamos atuando, para que sejamos capazes de dar o suporte assertivo e necessário. Por meio de treinamentos, formações e capacitações, tornaremos o corpo docente eficiente. Essa eficiência permitirá atender às demandas dos alunos, porque a mobilização, a inventividade e o entusiasmo dos professores e das equipes educacionais poderão dar vida a uma escola de qualidade em todos os níveis.
Em terceiro lugar, a escola deve ter uma visão ampla sobre os conhecimentos acadêmicos construídos pelos alunos sem deixar de considerar suas emoções, seus sentimentos e todo o desenvolvimento de habilidades socioafetivas que são decisivas para a acolhida do aluno no pós-pandemia. Planejar ações de acolhimento e reintegração social de todos os profissionais que atuam na escola, estudantes e suas famílias, como forma de superar os impactos causados pela pandemia e pelo longo período de suspensão das atividades presenciais na escola deve ser uma prioridade. Faz-se urgente propor ações e o desenvolvimento de um projeto que possa levar em conta não só as realidades de todos os alunos, mas também fornecer um acompanhamento personalizado, adequado às necessidades individuais deles.
Em quarto lugar, a escola, através de sua Equipe pedagógica, necessitará fazer a recomposição da aprendizagem dos alunos. No longo período em que as atividades presenciais foram suspensas, a educação não teve trégua, não cessaram seus processos e os alunos mostraram a capacidade que possuem de adaptação, de se manterem motivados a aprender, mesmo num cenário tão desafiador. Apesar das circunstâncias difíceis, eles persistiram em seguir as aulas. Destacamos o importante papel que as famílias tiveram nesse contexto. O nosso grande desafio será, ao retornar às escolas, não continuar de onde paramos, mas sim de reconstruir novas formas de ensinar e aprender, nossas crianças, adolescentes e jovens precisarão intensamente de nosso apoio e acompanhamento.
É decisivo que o nosso planejamento na retomada aos espaços escolares seja capaz de envolver todos os estudantes, incluindo-os nas mediações durante a jornada escolar, solicitando sua participação, considerando as suas especificidades, mas sem perder de vista os parâmetros e regras comuns a todos. É preciso estar sempre atento à heterogeneidade tão comum e importante de uma sala de aula, planejando, acompanhando e avaliando constantemente os avanços e promovendo a autonomia, o aprendizado e interação. Revisitar a Proposta Pedagógica e Curricular, selecionando os objetivos de aprendizagem previstos para cada etapa educacional, com o estabelecimento de habilidades e competências prioritárias, baseando-se nas Diretrizes dos documentos normativos da Educação Nacional, nossa referência.
O distanciamento social foi uma das medidas impostas para o controle do Covid-19. Para que continuássemos a ser escola, a tecnologia foi a nossa aliada. Esta é a reflexão proposta neste quinto item. Todas as nossas ações foram transpostadas para o digital. O tão temido celular na sala de aula ganhou status de necessidade, para que o aluno conseguisse conectar ao professor, com a aula e com a aprendizagem. Ele passou a ser uma ferramenta. No retorno ao espaço físico da escola, essa condição deverá ser considerada. A nova realidade precisa ser híbrida. A escola deverá integrar os processos de aprendizagem remotos e presenciais no seu projeto acadêmico. Mais essa possibilidade de integração deverá fazer parte do DNA do ambiente escolar a partir de agora.
O acolhimento e a valorização do aprendizado socioemocional e ético será a nossa abordagem neste sexto item. O direito ao acolhimento individualizado e humanizado de toda a comunidade escolar deverá compor o rol de estratégias que minimizem os impactos da pandemia no bem-estar de nossos alunos, alunas, professores e todas as pessoas que compõe o ambiente escolar. É fundamental assegurar uma abordagem intersetorial. Todos os integrantes da instituição são elementos importantes e atuantes nesse processo. É essencial planejar momentos de diálogo, escuta, troca de experiências voltados, tanto para os professores, demais trabalhadores da escola, bem como para os estudantes e familiares, a fim de que possam compartilhar seus sentimentos e experiências. Temos que ter clareza de que a vida social e humana da criança com os amigos e suas relações interpessoais foram interrompidas. O regresso terá, inevitavelmente, consequências no modo de se relacionarem com seus pares, mas também com corpo docente. A escola também terá que enfrentar essa condição e, sobretudo, preparar propostas para realidade tão essencial à humanidade. Será, sem dúvida, a maior contribuição da escola para a construção da humanidade futura.
Em sétimo item, mas não menos importante, nos impele a responsabilidade de promover e incentivar a participação dos familiares e/ou responsáveis no acompanhamento das atividades escolares dos filhos no retorno, por meio do estreitamento das relações entre escola e família. Devem ser considerados o impacto socioeconômico e situações de vulnerabilidade nas famílias e na comunidade em geral, no contexto da pandemia, bem como seu efeito na educação e no aprendizado. O envolvimento total da família deve ser constantemente estimulado pelas escolas, pois, como já mencionado, com pandemia, a família se tornou uma peça de ouro na realização e efetivação do projeto escolar. A escola tornou-se possível digitalmente graças ao esforço dos pais, que, ao mesmo tempo em que realizavam suas ocupações, buscaram se adaptar a uma nova realidade. Isso mostra o quanto o papel da família é decisivo. Ela pode e precisa estar mais envolvida nos processos escolares.
Conscientes de que não se esgota aqui essa temática, o contexto e os desafios em pauta para todos nós que estamos envolvidos com a Educação e que nos interessamos pela qualidade de seu processo podemos dizer que a escola deve reorganizar seu espaço físico lembrando as medidas higiênicas, fazer o diagnóstico aprofundado de seus corpos docente e discente, para um melhor acompanhamento da vida pedagógica através de um projeto assertivo e eficiente, capaz de integrar o remoto e o presencial. A escola deve oferecer mais possibilidades de socialização para favorecer a vida social humana escolar da criança que foi interrompida de forma brusca. A escola do pós-pandemia deve envolver mais os pais nos projetos da comunidade educativa. Ela deverá ser integral, muito humana, esperamos e “esperançamos” contribuir para a construção de uma escola fiel à sua missão de educar para o aprofundamento da democracia, para o pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e para a transformação da sociedade.
– Kossi Pierre BATCHO KADOTE, cursando Psicopedagogia: Atuação em Contextos Educativos, na Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais.

 

Como será a atuação educacional no pós-pandemia?