No início de 2020, para qualquer família, era impossível imaginar que suas crianças pequenas ficariam por, pelo menos um ano e meio, submetidas às consequências de um isolamento social. Se para o adolescente os impactos são enormes, para a criança da Educação Infantil essa realidade também é assoladora. É importante ressaltar que o adolescente reclama; a criança, na maior parte das vezes, apenas assimila a redução do seu universo social e naturaliza essa constante. Por isso, é de suma importância que a família e a escola olhem com atenção redobrada para os mais novos. Além daqueles que deixaram de frequentar o ambiente escolar, existem outros que foram forçados a atrasar a entrada na escola, portanto, ainda não experimentaram as riquezas desse espaço educativo.
Vivenciamos neste momento mais do que uma retomada progressiva das atividades escolares presenciais; sob todos os aspectos, crianças, profissionais e famílias estão submetidos a um inédito processo de adaptação. Ora, não se trata apenas de receber alunos e alunas na escola depois de um período de ausência, mas de acolher seres humanos que podem ter passado, junto a suas famílias, por duras experiências durante a pandemia. Portanto, seja para os novatos ou para as crianças que estão retomando as atividades presenciais, o sentido das ações deve, sim, compreender a lógica do acolhimento e da adaptação. Uma vez que as pessoas e o mundo foram transformados, a escola também não pode ser mais a mesma.
O desenvolvimento psicossocial infantil está intimamente ligado ao ambiente, não apenas às atividades de caráter pedagógico. Quando se discute, por exemplo, a educação domiciliar, na maior parte das vezes se ignora a importância do universo escolar na formação da criança. Um estudo divulgado pelo Laboratório de Pesquisas em Oportunidades Educacionais, ligado à Universidade Federal do Rio de Janeiro, apresenta dados relevantes sobre os impactos do isolamento social no quadro socioemocional, motor e cognitivo em crianças de 4 e 5 anos idade. Em suma, observa-se uma grande dificuldade na comunicação entre a escola e a família, o que compromete o devido acompanhamento do processo educativo. Ademais, a crise sanitária potencializou o uso de telas (não apenas para estudar) aumentando o tempo médio de exposição e prejudicando, segundo os profissionais ouvidos no estudo, a expressão corporal e oral das crianças. Fica óbvio que a retomada, diante de um cenário seguro, é necessária.
Por fim, é essencial que haja uma sintonia entre instituição e responsáveis, pois o retorno é um processo que precisa de cuidados na esfera da saúde e da educação. Da mesma forma em que o diálogo entre a família e a escola pode fortalecer o processo de ensino e aprendizagem, é importante que todas as partes envolvidas também construam uma consciência sanitária que englobe a ideia de que somos responsáveis não apenas pela nossa saúde, mas igualmente pela dos outros.
– Graduado em História e Filosofia e especialista em Mídias na Educação, Sociologia, Gestão Escolar e Gestão Estratégica de Pessoas. 
EDUCAÇÃO INFANTIL: UM OLHAR HUMANIZADO PARA O RETORNO