EDUCAÇÃO PÓS-PANDEMIA – REFLEXÕES

A pandemia do Coronavírus continua sendo devastadora, e os seus impactos se estendem por todas as esferas da sociedade. Desde março de 2020, as mais de 180 mil escolas de ensino básico no Brasil precisaram adaptar os seus sistemas de aula. São aproximadamente 48 milhões de estudantes impactados. A princípio, como prevenção, foram suspensas as aulas presenciais, contudo, mesmo em 2021, com certa flexibilização, a situação não chega perto daquela que considerávamos “normal”. E será que queremos devolver a educação para o exato lugar em que ela estava antes da pandemia? Não se trata de afirmar que ela está melhor agora, é claro que não. Crianças e adolescentes sofrem profundamente com o escasso contato social e com a ausência da dinâmica da escola, sem contar os desafios do processo de ensino e aprendizagem. Entretanto, as condições impostas pelo atual cenário levaram escolas e profissionais a lançar mão de recursos que antes, não raras vezes, eram negligenciados. Em termos de tecnologia, não podemos dizer que “a roda foi inventada” durante a pandemia, ao contrário, houve, forçosamente, um movimento de otimização do uso de recursos que já estavam disponíveis.

Naturalmente, essa não é uma realidade homogênea. Em um país com severa desigualdade social e com enormes problemas na gestão do ensino básico público, não podemos tratar dessas questões sob uma perspectiva universal. Dessa forma, compreende-se que as reflexões propostas aqui, infelizmente, englobam apenas uma parcela da realidade, sendo também imprescindível, diante da evidente diversidade de realidades educacionais, mapear as fragilidades e possibilidades que sirvam de fato a uma educação emancipadora. 

A tecnologia, assumida muitas vezes como inimiga da escola, é a principal aliada técnica da educação durante a pandemia. E esse não é o ponto nevrálgico da presente discussão; as novas tecnologias já deveriam ser um elemento central da educação desde antes da pandemia. E é nesse sentido que não devemos devolver o processo educativo ao lugar no qual se encontrava antes do novo coronavírus. 

As escolas não podem, ao avistarem o retorno à “normalidade”, renunciar aos recursos que ganharam espaço nesse período. É fundamental que se harmonizem as práticas da educação presencial com o uso assertivo dos recursos tecnológicos. A importância de uma boa gestão desses elementos vai além do simples aproveitamento das habilidades desenvolvidas pelos agentes educativos durante esse caminho, mas passa também pelo desenvolvimento e manutenção de talentos, pelo potencial de engajamento dos alunos ao processo de ensino e aprendizagem e pela própria sintonia com as referências da Base Nacional Comum Curricular. 

Faz-se inevitável pontuar que o processo é composto pela comunidade educativa, que vai muito além dos muros da escola. Nesse contexto, destaca-se o papel dos pais, mães e responsáveis, que precisam compreender que a educação, como qualquer outro elemento da vida, evolui, e que os caminhos e práticas também são transformados, para que nossas crianças e jovens possam progredir de forma coerente com a dinâmica do mundo atual. 

O filósofo Heráclito disse que não se pode entrar no mesmo rio duas vezes, pois nunca se encontram lá as mesmas águas de antes, ou seja, o rio, enquanto ser, já se modifica. Essa sempre foi a lógica para a educação. Em linhas gerais, a pandemia evidencia que a educação “normal” é feita de águas passadas e que todos os que caem nesse rio, agora, encontram correntes diferentes. O importante é que esse fluxo contínuo seja administrado para que se construa continuamente uma educação justa e de qualidade. 

– Graduado em História e Filosofia e especializado em Mídias na Educação, Sociologia, Gestão Escolar e Gestão Estratégica de Pessoas.