“É preciso ter esperança. Mas tem de ser esperança do verbo esperançar”. Por que isso? Por que tem gente que tem esperança do verbo esperar. Esperança do verbo esperar não é esperança, é espera. “Ah, eu espero que melhore, que funcione, que resolva”. Já esperançar é ir atrás, é se juntar, é não desistir. É ser capaz de recusar aquilo que apodrece a nossa capacidade de integridade e a nossa fé ativa nas obras. Esperança é a capacidade de olhar e reagir àquilo que parece não ter saída. Por isso, é muito diferente de esperar; temos mesmo é de esperançar! 

Paulo Freire, Pedagogia da Esperança

Padre Geral Pedro Aguado, em sua carta “Reiniciar” publicada no site Escolápios Brasil, nos disse: “Sem dúvida, estamos diante de um novo momento, que nos desafia fortemente”. A epígrafe do texto nos leva a uma pequena reflexão proporcionada por Freire e que nos remete a uma compreensão profunda para o momento o qual estamos vivendo: como ter esperança diante do que tem causado esta pandemia? 

A força da esperança é algo inerente ao ser humano. A própria identidade do humano caminha num constante movimento de viver o presente com pensamento no futuro, como nos revela a história de nosso fundador: “Um homem de mente arejada, Calasanz preparava o futuro a partir do presente”.

Vivemos momentos em que essa força da esperança se evidencia, principalmente em ocasiões em que somos submetidos a sentimentos de tristeza e desamparo. O período da pandemia vem trazendo uma angústia a todos nós, diante das vidas que estamos perdendo, diante da suspensão da rotina que nos sugeria “normalidade”, mas é, nessa hora, que deve aflorar a esperança do verbo esperançar, expressão freiriana que cabe sempre em nossa contemplação.

O sentido que a esperança nos traz se apresenta de diversas maneiras, dentre elas, acreditar que não seremos atingidos com a Covid-19, confiar que os cientistas conseguirão uma vacina para essa doença e, ademais, crer que retornaremos à vida “normal”. Logo, é preciso confiar que sairemos dessa crise a partir de fé em Deus e que não podemos viver sem a esperança de que dias melhores virão. 

Enquanto colégio escolápio, primamos por ser um lugar de encontro, de referência, participação e pertença tanto para a comunidade educativa quanto para a comunidade cristã escolápia. E, diante do momento, se faz necessário que todos manifestem atitudes de confiança e esperança a partir da vivência da fé nos lares de nossas famílias, transformando-os em igrejas domésticas. Para isso, a Pastoral do colégio tem apresentado oportunidades de meditação e reflexão sobre a vida, dom maior entregue a nós, permitindo-nos recomeçar, a todo momento, o caminho que a Deus conduz e nos envia ao verdadeiro sentido da vida.

A esperança em Calasanz se traduzia como uma virtude a ser exercitada e, potencialmente, conectada à fé, pois ele viveu um período em que sua obra passou por uma destruição após cinquenta anos de êxito e de aceitação por parte de todos. Mesmo passando por esse contexto, Calasanz esperava contra toda a esperança e, numa de suas cartas, dizia: “O Senhor protegerá nossa obra sempre e prosperará cada vez mais, contando que ponhamos todo empenho na educação das crianças, principalmente as mais carentes, no santo temor de Deus”. Apesar da extinção de sua ordem, ele insistiu aos educadores que perseverassem com toda dedicação nas aulas ao escrever: “Tende a certeza de que, aonde falham os meios humanos, chegam os divinos”. Desse modo, Calasanz nos dá o exemplo com a vida de fé, firmando a esperança na certeza da ajuda “divina” que não há de faltar no momento oportuno.

Assim como Calasanz caminhava, o documento Gaudium ET Spes (“Alegria e Esperança” em latim) sobre a Igreja no mundo contemporâneo nos direciona para que “as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos homens de hoje, sobretudo dos pobres e de todos aqueles que sofrem, são também as alegrias e esperanças, as tristezas e as angústias dos discípulos de Cristo; e não há realidade alguma verdadeiramente humana que não encontre eco no seu coração”. Dessa forma, a missão escolápia evangelizadora vem ao encontro de que possamos caminhar juntos com uma esperança viva e a partir dos pilares dessa missão: educar, evangelizar e transformar a sociedade.

 Enfim, estamos aprendendo muito com esse tempo de pandemia e também tendo ensejo de refletir sobre o esperançar como uma atitude da vida, pensando que essa esperança precisa ser um motor que nos impulsiona e torna possíveis inúmeras perspectivas. Assim, aproveito das palavras de Padre Pedro Aguado, nosso Calasanz, em sua carta intitulada “Reiniciar”, para finalizar este texto à família calasância: “quero terminar esta carta lembrando que há coisas que nunca mudarão nas Escolas Pias, não importa quão novo e desconhecido seja o contexto em que estamos começando a caminhar, porque não há vírus que possa lidar com elas. Estou falando sobre a paixão pela missão, da proximidade com os alunos, da proclamação do Evangelho, do compromisso com a qualidade em tudo o que fazemos, do Movimento Calasanz, da Missão Compartilhada, do crescimento da identidade etc. Acreditamos em uma educação sustentada por uma relação educativa que não se satisfaz em ser virtual, mas autêntica. Para avançar, é hora de renovar nossa convicção e nosso compromisso com o que define nossa proposta educativa e ajudar-nos mutuamente a viver para que nosso testemunho reflita, embora sempre pobre e frágil, Aquele que é a resposta para todas as perguntas”.

***Texto escrito por Leonardo Soares- coordenador pastoral do Colégio Ibituruna

Esperança escolápia em tempos de pandemia